domingo, 18 de maio de 2008

Caminhos de Ilusão - Prefácio


Olá, decidi colocar aqui

CAMINHOS DE ILUSÃO

- um drama da emigração - romance inédito que escrevi em 1984,
cujo o epílogo está na minha mente, por precaução!


Prefácio



Mil e uma razões me convenceram a escrever este romance, nos momentos de lazer que o trabalho por turnos me proporcionava.
Confesso, que nunca a inspiração me assediou tanto como nesses anos de ilusão.
Arrastado pela ambição, jamais o cansaço e o desânimo conseguiram esmorecer esta alma impaciente, atribulada pela frustração que o tempo caprichosa e obstinadamente teimava em saciar nas veias da saudade.

É que, naquele Verão quente de 1975, os lacaios do Marxismo, trancando as portas das universidades, haviam reduzido a cinzas o sonho da advocacia, por quem vivia desde menino, e um desejo indómito de desforra fervilhava no meu coração destroçado.

Foi pois no turbilhão da matéria, nesse mundo que os demagogos apologistas da luta de classes fanaticamente apregoaram e hipocritamente se apropriaram, quando nos canos das espingardas floresceram os cravos de Abril, que travei o meu combate, não como um burguês, mas como um anónimo filho da diáspora.

Adolescente ainda, tivera medo e fugira diante do espantalho Vermelho, apesar da íntima convicção de que um dia a máscara da igualdade proletária, apodrecida nas enxurradas de sangue, que os bolchevistas haviam derramada pelos confins da Sibéria, mostraria ao mundo a cruel realidade do ateísmo, e, então, o meu país, recordando os seus egrégios avós, se desembaraçaria dos demónios marxistas.
Parti porque a vida nunca espera, mas agora, que me doutorei na Faculdade do Trabalho, grito bem alto e sem a mais ténue sombra de medo:

“ Aqui me tendes, fanáticos da provocação, profetas da catástrofe, demagogos da exploração! Aqui me tendes, fiel ao meu ideal de liberdade!

Aqui me tendes para vos infernizar e vos repetir vezes sem conta que o mísero mundo sem Deus, mas tão cheio de sangue, ódio e morte, que queríeis impor à Humanidade, ruiu ignominiosamente.
Aqui me tendes, fortalecido pelo fel amargo e sal recalcitrado nas lágrimas da Saudade, como o meu pai, que tanto se sacrificou para que eu fosse o alguém que vós quisestes destruir e reduzir às cinzas de ninguém, e como milhares de portugueses condenados ao degredo, aqui me tendes e tereis, enquanto Justiça não nos for feita...”

Emigrante irmão, se te sentes triste e frustrado; se vives como um banido ou um rejeitado e sofres as sevícias do racismo, abre este livro, que eu te dedico, pousa nele as tuas mãos e olha-as, dizendo que não há mal que sempre dure e que, mesmo na adversidade, a Saudade poderá ser o fermento da tua Felicidade.

Vá!, anda, ergue-te, caminha e luta como tantos que tombaram longe da mãe pátria e ao pó retornaram sem sepultura, ou como os que fecharam os olhos sem ver a terra prometida e, sobretudo como aqueles, e tu és um deles, não esqueças, que ousaram afrontar o fatalismo nestes caminhos de ilusão e de perdição!

Coragem, meu herói! Coragem, meu irmão!

Luís Macedo Pereira
Luxemburgo― Consdorf, 1984



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